Um apagão repentino no Campus do Vale da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) gerou uma corrida contra o tempo para salvar uma pesquisa crucial sobre mudanças climáticas. O estudo, liderado pelo Centro Polar Climático da UFRGS, utiliza amostras de gelo da Antártica para rastrear as alterações climáticas ao longo dos últimos 500 anos.
Mais de 10 mil amostras de gelo, armazenadas em refrigeradores e freezers, corriam o risco de deterioração devido à falta de refrigeração durante quase 30 horas no primeiro apagão. O climatologista Francisco Aquino, responsável pelo projeto, monitorou de perto a situação, garantindo que as amostras não fossem perdidas.
"Neste momento, estamos bem. Os freezers ficaram desligados, mas, como estão carregados de amostras de gelo, conseguimos manter a temperatura até o retorno. Tive que voltar da praia, fiquei atento ao prédio sem energia para garantir que nenhum freezer fosse danificado", explicou Aquino.
Embora a energia tenha sido restaurada temporariamente, novos problemas surgiram quando ocorreu outro apagão menos de um dia depois. A CEEE Equatorial, responsável pelo fornecimento de energia, atribuiu o segundo incidente ao desligamento de um alimentador que atende à rede da universidade.
O prejuízo não se limitou à pesquisa sobre mudanças climáticas. Outros projetos importantes foram afetados, com perdas estimadas em milhões de reais. Na Faculdade de Agronomia, dois experimentos foram perdidos, segundo o vice-diretor Paulo Vitor Dutra de Souza.
"Perdi dois experimentos que eu trabalhava. Vamos começar do zero", lamentou Souza.
Embora as amostras de gelo da pesquisa sobre mudanças climáticas tenham sido salvas, o apagão pode ter comprometido a qualidade de algumas delas. Flutuações de temperatura podem afetar a estrutura do gelo, dificultando a análise, explicou o professor Francisco Aquino.
"Ainda estamos avaliando o impacto do apagão nas amostras. É possível que algumas delas tenham sido danificadas e não sirvam mais para a pesquisa", disse Aquino.
A UFRGS está empenhada em investigar as causas do apagão e em buscar soluções para evitar futuros problemas que possam afetar as pesquisas em andamento. A universidade também está buscando maneiras de reparar os danos causados pelo incidente.
A pesquisa sobre mudanças climáticas com amostras de gelo da Antártica é fundamental para entender as causas e os efeitos do aquecimento global. O estudo da UFRGS desempenha um papel crucial nesse sentido, fornecendo informações importantes para políticas públicas e ações de mitigação.
O incidente na UFRGS destaca os desafios enfrentados pelas universidades brasileiras para manter suas pesquisas em andamento. A falta de recursos, a infraestrutura precária e os problemas de fornecimento de energia são apenas alguns dos obstáculos que precisam ser superados para garantir a qualidade da pesquisa científica no país.
Fonte: G1, UFRGS.
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